domingo, 1 de dezembro de 2024

Ainda estou aqui

 "AINDA ESTOU AQUI passa dos dois milhões de expectadores”


Quando um filme aponta seu foco na direção certa, não utiliza qualquer firula para agradar a plateia e acaba favorecido pelo momento político, momento político esse que coloca os herdeiros dos facínoras da ditadura militar na linha de tiro do Supremo, podemos celebrar com alegria a acolhida do público, muitas vezes com calorosos e emocionados aplausos ao final das sessões.

Um filme com carpintaria primorosa, sem concessões, quase asséptico em alguns momentos, mas que tratou de um drama da classe média, classe média não habituada com a violência do Estado.

Tenho para mim que esse sucesso de bilheteria passa muito pela presença em massa dessa classe média que hoje se reconhece, também, como partícipe e vítima do combate aos crimes dos chamados anos de chumbo. De registrar a descoberta, pelo majoritário público jovem, da memória daqueles fatos sempre sonegados.

Vi o filme como sempre vi  as obras sobre a ditadura militar: com o máximo de distanciamento, necessário para me poupar emocionalmente. Fico sempre com a sensação de não ter feito o suficiente para evitar o que temos vivido nos últimos anos. É uma dívida que carrego comigo.

Porém — e sempre há um porém —, quando Eunice Paiva, no final, numa cadeira de rodas, olhos perdidos pelo Alzheimer, vê na TV um documentário falando das vítimas da ditadura, entre elas seu querido Rubens, seu olhar se ilumina — uma síntese do filme —, lampejo de que toda a sua luta havia valido a pena.

Nesse momento, eu baqueei...


cid cancer

nov/24


sexta-feira, 29 de novembro de 2024

 Folha: Ainda estou aqui passa dos 2 milhões de espectadores 


Quando um filme aponta seu foco na direção certa, não utiliza qualquer firula para agradar a plateia e acaba favorecido pelo momento político,  momento político esse que coloca os herdeiros dos facínoras da ditadura militar na linha de tiro do Supremo, podemos celebrar com alegria a acolhida do público, muitas vezes com calorosos e emocionados aplausos ao final das sessões. 

Um filme com carpintaria primorosa, sem concessões, quase asséptico em alguns momentos, mas que tratou de um drama da classe média, não habituada com a violência do Estado. 

Tenho para mim que esse sucesso de bilheteria passa muito pela presença em massa dessa classe média que hoje se reconhece, também, partícipe e vítima do combate aos crimes dos chamados anos de chumbo. 

Vi o filme como sempre vi obras sobre a ditadura militar: com o máximo distanciamento, necessário para me poupar emocionalmente. Fico sempre com a sensação de não ter feito o suficiente para impedir o que temos vivido nos últimos anos. É uma dívida que carrego comigo. 

Porém -- e sempre há um porėm --, quando Eunice Paiva/Fernanda Montenegro, no final, com os olhos distantes pelo Alzheimer, vê na TV um documentário sobre as vítimas da ditadura, entre elas seu querido Rubens, seu olhar se ilumina num lampejo de que toda a sua luta havia valido a pena. 

Nesse momento,  eu baqueei 

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

fugindo do mar

O Tietê é um rio do contra: nasce lá no alto da Serra do Mar, quase despinguelando para o Atlântico e, caprichosamente, debanda para dentro do território, atravessa o que hoje é o estado de São Paulo e se esbalda nas águas caudalosas do rio Paraná. Esse é um rio tipicamente paulista, voltado para dentro, a partir do qual o caráter daquela gente rude foi forjado, gente saída da vila de Piratininga para explorar a terra, caçar índios e tentar encontrar ouro (e esmeraldas).

É das cabeceiras desse rio do contra que se volta nosso olhar, a gente da nascente, as planícies e as terras férteis de Biritiba, de onde se abre a grande várzea do velho Anhembi banhando as bordas da Serra do Itapety, os campos do Mirambava, na sinuosa estrada d'água cortando Itaquá a caminho da vila de Anchieta.

Quanta história e quantas estórias: as danças e as músicas do Divino, a resistência da dança de São Gonçalo, a primeira experiência radiofônica de que se tem notícia, as capelas e as igrejas com suas pinturas, o impacto da Estrada de Ferro Central do Brasil, as flores, as frutas, os imigrantes. Quanta história e quantas estórias: esse o objeto de nossos olhares. Venha conosco. Com certeza você tem algo a dizer. Ou alguém da família. Ou os amigos, os vizinhos. Venha compartilhar conosco. Suba nas tamancas e solte o verbo: o espaço, esse espaço todo, é nosso.