"AINDA ESTOU AQUI passa dos dois milhões de expectadores”
Quando um filme aponta seu foco na direção certa, não utiliza qualquer firula para agradar a plateia e acaba favorecido pelo momento político, momento político esse que coloca os herdeiros dos facínoras da ditadura militar na linha de tiro do Supremo, podemos celebrar com alegria a acolhida do público, muitas vezes com calorosos e emocionados aplausos ao final das sessões.
Um filme com carpintaria primorosa, sem concessões, quase asséptico em alguns momentos, mas que tratou de um drama da classe média, classe média não habituada com a violência do Estado.
Tenho para mim que esse sucesso de bilheteria passa muito pela presença em massa dessa classe média que hoje se reconhece, também, como partícipe e vítima do combate aos crimes dos chamados anos de chumbo. De registrar a descoberta, pelo majoritário público jovem, da memória daqueles fatos sempre sonegados.
Vi o filme como sempre vi as obras sobre a ditadura militar: com o máximo de distanciamento, necessário para me poupar emocionalmente. Fico sempre com a sensação de não ter feito o suficiente para evitar o que temos vivido nos últimos anos. É uma dívida que carrego comigo.
Porém — e sempre há um porém —, quando Eunice Paiva, no final, numa cadeira de rodas, olhos perdidos pelo Alzheimer, vê na TV um documentário falando das vítimas da ditadura, entre elas seu querido Rubens, seu olhar se ilumina — uma síntese do filme —, lampejo de que toda a sua luta havia valido a pena.
Nesse momento, eu baqueei...
cid cancer
nov/24
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