terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Origem dos tamancos, socos e socas

Origem dos tamancos, socos e socas

A indústria do calçado na região de Braga, Guimarães e Barcelos é abundante e antiquíssima, pois andou sempre ligada à de curtimenta de peles.
Assim, “existiu em Guimarães uma confraria dos sapateiros, sob a evocação de Santa Maria, cuja constância no tempo vem desde o século XIII e se projectara numa continuidade admirável sob o título abreviado de Irmandade de S. Crispim”, que foi fundada no ano de 1315 pelos sapateiros João Baião e Pedro Baião.
Nesta região, usava-se o calçado de madeira, comummente conhecido por tamancos e socos.
E, se bem que em tempos passados o povo tivesse andado descalço, este calçado impunha-se como meio de protecção na realização de alguns trabalhos agrícolas, tendo por isso os seus melhores defensores na gente da lavoura.
Feito de pau de amieiro e um pouco de couro, este calçado humilde tem também a sua história.
Popularmente, os tamancos têm as designações de socos e taroucos. Se a pessoa que os usava era uma mulher, os tamancos eram designados por tamancas, os socos por socas, e os taroucos passavam a ser taroucas.
A propósito deste assunto, José Leite de Vasconcelos, o mestre da etnologia, refere que “as mulheres usam tamancas ou socas, que são menores e mais apuradas do que os tamancos, mas com sola de madeira”.
De qualquer forma, o tamanco era mais usado pelo homem e o soco mais usual na mulher, sendo inquestionável que este foi o calçado dos pobres, sem esquecer que também os ricos o usaram em muitas emergências do tempo e da fortuna.
Era de igual modo costume os membros da Igreja na diocese bracarense usarem este tipo de calçado.
As próprias condições físicas do terreno foram as inspiradoras do artífice tamanqueiro. Nas terras do litoral, o pau do tamanco é raso. No interior, o tamanco começa a arquear a biqueira. Já nas terras bravas das serras, o tamanco arqueia ainda mais, cingindo o couro mais ao pé, para melhor se acomodar ao terreno e à marcha.
As oficinas dos tamanqueiros situavam-se mais no recôndito das aldeias do que nos povoados urbanos. Lá, o tamanqueiro talha as peles (de couro para os socos de homem e de crute para os socos de mulher), e prega as peles aos paus. Utiliza moldes de cartão grosso para cortar as peles e usa uma fôrma para fixar o cabedal ao pau através de tachas. O pau utilizado era obtido do amieiro. Para consegui-lo, o artífice ia pelas aldeias à procura de amieiros, e esperava pelas quadras de lua para os poder cortar.
O tamanco era fabricado em maiores quantidades no Inverno, começando na Primavera a fabricação da chinela de calcanhar aberto, que era calçado confortável, higiénico e típico.
A chinela era usada tanto pelo lavrador como pelo homem do centro urbano e até mesmo pelo caixeiro antigo, de traje à época e chinela de couro açafroado. Este facto faz-nos compreender que a chinela não só era usada na aldeia, mas também no centro urbano.
A chinela de mulher era talhada para ser usada por gente de pé descalço. A sua forma é calçadeira, quase rasa e de bicos aguçados; o tacão era baixo e em sola, e o cabedal era preto, em verniz ou “vitela da terra”.
A gáspea, no peito do pé, é bordada com retrós de cores. Se a chinela for para uma viúva terá de ser lisa.

Actualmente, ainda encontramos pequenas oficinas onde se continua a fabricar calçado de pau para um reduzido número de clientes que o preferem ao calçado de materiais plásticos, para enfrentar tanto o calor no Verão, como a humidade e o frio do Inverno nos campos.
fonte: http://xuzwalkonme.wordpress.com/origem-dos-socos/

fugindo do mar

O Tietê é um rio do contra: nasce lá no alto da Serra do Mar, quase despinguelando para o Atlântico e, caprichosamente, debanda para dentro do território, atravessa o que hoje é o estado de São Paulo e se esbalda nas águas caudalosas do rio Paraná. Esse é um rio tipicamente paulista, voltado para dentro, a partir do qual o caráter daquela gente rude foi forjado, gente saída da vila de Piratininga para explorar a terra, caçar índios e tentar encontrar ouro (e esmeraldas).

É das cabeceiras desse rio do contra que se volta nosso olhar, a gente da nascente, as planícies e as terras férteis de Biritiba, de onde se abre a grande várzea do velho Anhembi banhando as bordas da Serra do Itapety, os campos do Mirambava, na sinuosa estrada d'água cortando Itaquá a caminho da vila de Anchieta.

Quanta história e quantas estórias: as danças e as músicas do Divino, a resistência da dança de São Gonçalo, a primeira experiência radiofônica de que se tem notícia, as capelas e as igrejas com suas pinturas, o impacto da Estrada de Ferro Central do Brasil, as flores, as frutas, os imigrantes. Quanta história e quantas estórias: esse o objeto de nossos olhares. Venha conosco. Com certeza você tem algo a dizer. Ou alguém da família. Ou os amigos, os vizinhos. Venha compartilhar conosco. Suba nas tamancas e solte o verbo: o espaço, esse espaço todo, é nosso.